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Grupo Marcos


O nome Marcos – o nome-símbolo do grupo é uma homenagem a uma encarnação de Eurípedes Barsanulfo, nosso dirigente espiritual, que ocorreu à época de Cristo.

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Se a Mediunidade Falasse IV 
 
 
 

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Se a Mediunidade Falasse IV

Medo e Mediunidade

 

  

 

 

 

Hope in a prision of desparir (Esperança na prisão do desespero)  Evelyn De Morgan (30 August 1855-2 May 1919), British painter.

 

 

Sumário

 

Apresentação do Grupo Marcos, 6

Nosso maior compromisso é com a coerência, o estudo e divulgação da obra de Allan Kardec. A Codificação e a Revista Espírita em todas as nossas produções

Apresentação da Série, 7

Psicografar é um ato de descoberta empolgante, de convívio com os bons espíritos e de aprendizado cristão.

Prefácio, 9

 

Capítulo I - O Pedido de um Anjo Guardião, 11

O que devemos entender por Anjo da Guarda?

É uma espírito protetor de elevada hierarquia espiritual. (Q. 490, Livro dos Espíritos)

 

Qual a missão de um espírito protetor?

A de um pai que cuida do filho para direcioná-lo no caminho do bem. Ele o orienta com seus conselhos, o consola nas aflições e sustenta sua coragem nos desafios da vida terrena. (Q. 491, Livro dos Espíritos)

 

Capítulo II - O Medo de Deus, 14

A mediunidade é a origem dos Dez mandamentos, dos Evangelhos, do Hinduísmo, do Budismo e do Islamismo. A mediunidade é a fonte de todas as religiões e filosofias espiritualizantes dos mundos.

Temer a mediunidade é afastar-se do Criador.

 

Capítulo III – Os Educadores da Humanidade, 24

A evolução do espírito através dos tempos é inseparável da história da mediunidade, não se pode entender a evolução humana sem compreender a importância da relação entre encarnados e desencarnados.

 

Capítulo IV - Autoritarismo e Liberdade Segundo a Lei Divina, 30

 

Não é o tipo de fenômeno mediúnico que define a evolução do médium e do grupo mediúnico. A diferença está na maneira como o ser humano lida com esses fenômenos.

 

Palavras Finais,

É um momento de decisão: contamos com você!

Ivan de Albuquerque, 38

É o espírito amigo que desde 2001 coordena ostensivamente nossas atividades.

 

Breve Explicação, 39

Cabe a nós, os encarnados, pesquisar, traduzir e citar os trechos apontados.

 

Apresentação do Grupo Marcos

 

 

 

Grupo Marcos é um grupo de amigos, amigos encarnados e desencarnados, amigos jovens e adultos, amigos estudiosos e aprendizes, um grupo cristão.  O nome Marcos - o nome-símbolo do grupo – é em homenagem a uma encarnação de Eurípedes Barsanulfo, nosso dirigente espiritual, que ocorreu à época do Cristo. Marcos foi um essênio que se tornou verdadeiro cristão.  Essa história você pode conhecer no livro A Grande Espera, da Editora IDE (Instituto de Difusão Espírita).

 

Nossos Princípios

 

1.                      Todos produtos do grupo Marcos (livros, dvds, programas de áudio e de vídeo etc) são colocado gratuitamente à disposição em nosso site www.grupomarcos.com.br, sendo previamente autorizado imprimir, copiar, divulgar. No caso do livros impressos ou dvds gravados será  cobrado o exato valor do custo.

2.                    As produções (mediúnicas ou não) levam apenas o nome Marcos e dos amigos espirituais, quando for o caso;

3.                    A filiação ao grupo não tem formalidade ou nem taxa, basta entrar em contato e falar como deseja ajudar;

4.                    Nosso maior compromisso é com a coerência, o estudo e divulgação da obra de Allan Kardec. A Codificação e a Revista Espírita norteiam todas as nossas produções;

5.                    Nosso compromisso específico é com a formação da Nova Geração, sem excluir ninguém de nossas atividades;

6.                    Nos propomos a produção de livros, de programas de áudio e de encontros de estudo como nossa principal contribuição ao movimento espírita.

 

Apresentação da Série

 

 

Amigo e amiga, vamos conversar sobre a obra que você vai ler. Primeiro quero dizer que você é muito importante para o Grupo Marcos. Todos os nossos esforços tem apenas um único objetivo, aproximar os corações que amam o Cristo e querem servir mais e melhor.

Vou contar um pouco a história deste livro. Quando começou ser transmitido pensei que fosse uma peça teatral, depois percebi que seria um livro e em seguida uma série... Fui descobrindo isso aos poucos. Como observador atento, fui descobrindo os acontecimentos, conhecendo Felipe, suas dúvidas, medos e aventuras. Psicografar é um ato de descoberta empolgante, de convívio com os bons espíritos e de aprendizado cristão.

Possuo a mediunidade de psicografia intuitiva o que me permite estar plenamente consciente no momento em que psicografo. Muitas vezes, quando alguém me via psicografar pensava que estava escrevendo... De fato estava, mas escrevia a história de outro escritor. Este livro foi inteiramente psicografado em meu quarto, em horários combinados com os amigos espirituais, após a preparação do ambiente espiritual durante o qual fiz o Culto do Evangelho diariamente, o que se tornou um hábito que mantenho de segunda a sexta-feira. Ensinam os bons espíritos que a casa do cristão deve ser um lugar de elevada vibração espiritual, apesar de nossas limitações pessoais, devemos nos esforçar para atingir essa meta.

Dito isso, vamos falar um pouco dos autores espirituais. O coordenador espiritual de nosso grupo é o espírito Ivan de Albuquerque. Explica-nos este amigo que nessa série encontraremos, como no Novo Testamento, diferentes estilos literários, inclusive, representações simbólicas como as empregadas por Jesus em suas parábolas. Ninguém, portanto, se espante ao encontrar a mediunidade representada por uma simpática senhora. Alerta-nos o amigo que o Cristo também usou do simbolismo para melhor ensinar a verdade. E esse é o objetivo: apresentar a você a grandeza da codificação espírita e da beleza da obra de nosso Pai. Facilmente você diferenciará o ensino simbólico da realidade objetiva como fazemos ao ler o Novo Testamento.

A coordenação das histórias é de responsabilidade de Ivan de Albuquerque e as aulas vivenciadas por Felipe, nosso personagem central, tem como autores os professores que as ministraram. Consequentemente, cada aula  ou exposição da série Se a Mediunidade Falasse possui autor específico.

O respeito a estes amigos que colaboram conosco nos leva a destacar que expressamos, com máximo respeito, as suas ideais, pensamentos e sentimentos. Esses Espíritos amigos são os verdadeiros autores desta obra. Para eles, o que mais importa é nos estimular o estudo e a reflexão sobre a grandiosa obra de Allan Kardec e sua aplicação em nosso dia a dia. A vaidade em aparecer não existe em seus corações e deixaram para nós a decisão de os identificarmos por pseudônimos ou como eram conhecidos na Terra. Após longa reflexão, nós do grupo de encarnados, decidimos apresentá-los com seus nomes verdadeiros, apenas por um motivo, estimular a você, amigo leitor, a ler e estudar suas obras, pois alguns deles deixaram excelentes livros que devem ser conhecidos de todos. Na medida do possível, suas obras são citadas no livro.

Em nosso caso, os encarnados, optamos por nos apresentarmos como grupo Marcos. Assim, a atenção é direcionada para o conteúdo da obra e não para especulações que podem nos distanciar dos critérios de Allan Kardec. Afinal, deve-se avaliar a obra e não os médiuns que a receberam, pois a série Se a Mediunidade Falasse será recebida por diversos médiuns.

Para concluir, quero falar da alegria que sentimos com a proximidade de nosso publicação! Sonhamos em ter contato com vocês, jovens amigos! Sabemos que muitos entenderão e se empolgarão com a proposta de nosso grupo, sejam bem-vindos ao grupo Marcos! Entrem em contato conosco. Queremos multiplicar o número de amigos e de trabalhadores cristãos! Quem sabe um dia não nos conheceremos pela internet nosso podcast semanal – o PodSim - ou em encontros que desejamos realizar por todo país? Antes de tudo quero dizer, se este livro está em suas mãos, estamos muitos felizes! Nosso sonho começa a se concretizar e convidamos você a fazer parte dele. Boa Leitura.

É o desejo de todos que formam o grupo Marcos!

 

 Capítulo I

 

O Pedido de um Anjo Guardião

 

 

Felipe está pensativo sobre um o curso que vai escolher. Um deles é o acompanhamento de um grupo de estudo-tratamento de espíritas que fracassaram na última encarnação por negarem a mediunidade e seu convite ao autoconhecimento e à espiritualização. É um curso de difícil acesso. Será assistido no quarto andar do Colégio. Quem conhece as normas do colégio, sabe, lá imperam três regras centrais: não se atira pérolas aos porcos; sinceridade absoluta; mérito do esforço próprio. E essa normas estão refletidas em todos os setores do colégio, inclusive, no acesso aos andares.

Pensa mesmo em desistir, mas lembra-se do convite de Gabriel Delanne que lhe disse que poderiam trabalhar juntos na Terra. Uma proposta como esta, trabalhar com um espírito missionário, mesmo que exija muito sacrifício, ele por nada perderia...

O curso tem três módulos em que a conduta de alguns espíritas será avaliada. Não para a condenação, mas com objetivo de socorrê-los. Durante o curso haverá muitas regressões de memórias para que se entenda os motivos de seus erros recentes.

Como chegarei ao quarto andar? É pensando nisso que Felipe, no jardim do colégio, aguarda a oportunidade da falar com Gabriel. Quando espera, distraído em seus pensamentos, alguém lhe toca o ombro, ele se vira.

-  Gabriel! Estava pensando em você.

-  Eu sei, diz sorrindo.

-  É... Felipe entende que ele captou seus pensamentos.

-  Com o tempo, você se acostuma com a comunicação telepática. Diz com bom humor. Afinal, vamos trabalhar juntos, não é?

Felipe sorri feliz com a certeza que seu amigo realmente deseja que ele o ajude e pergunta: eu sei das dificuldades para se chegar aos três primeiros andares, mas não tenho nenhuma ideia sobre o quarto andar... Fala Felipe timidamente.  

-  Não há dificuldade. Quem não está preparado, simplesmente não chega. Explica com alegria.

-  Mas... Como eu farei... Na verdade, nunca pensei em alcançar um curso acima do terceiro andar...

-  Sei disso. Hoje, você não teria condições de estar lá... Comenta Gabriel.

-  E como eu conseguirei...Felipe não está entendendo nada.

-  Calma, amigo. Eu explico. Muitas vezes, quando o espírito mostra dedicação e sinceridade, ele pode ter acesso a um aprendizado a título de empréstimo... De fato, você não tem ainda condições evolutivas plenas para participar deste curso, mas por causa de sua conduta, quero dizer, de sua dedicação, pai Joaquim e eu, a quem todos ouvem com muito respeito, conseguimos esse “empréstimo” da Misericórdia Divina para você.

-  Ah! Quer dizer que agora estou ainda mais “endividado”?! Brinca Felipe.

-  Exatamente. Neste caso, eu e seu guia espiritual somos os avalistas. Conclui Gabriel.

Ambos riem.

-   E quanto as escadas... Pergunta Felipe.

-  Não se preocupe. Até o terceiro andar é com você, depois é comigo.

Felipe o abraça com gratidão.

-  Calma aí. Quando estivermos trabalhando juntos é que quero ver sua gratidão, brinca Delanne.

Despedem-se.

Felipe tem uma semana para se preparar. Todas as noites ora e com o amparo de pai Joaquim vai estudar nas bibliotecas da escola. Em uma destas noites, quando sai da biblioteca do segundo andar, pai Joaquim o aguarda.

-  Pai Joaquim! Diz Felipe feliz.

-  Hoje nós vamos visitar a casa de um amigo seu. Comenta o nobre mentor.

-  Quem? Indaga curioso.

-  Avelino. Fala pai Joaquim sem explicar qualquer detalhe.

Partem.

Felipe mal pode conter a curiosidade. Qual seria o motivo da visita? Logo chegam ao apartamento do amigo. Entram com tranquilidade, pai Joaquim cumprimenta o guia espiritual do jovem, que os espera na entrada e orienta telepaticamente a Felipe que se prepare para não julgar, enquanto caminham para o quarto de Avelino. Entram. Felipe tem vontade de gritar. Acalme-se. Orienta pai Joaquim.

Apesar de bela decoração, da vista deslumbrante, o ambiente espiritual é terrível. No quarto, moram entidades muito sofredoras e necessitadas. Algumas viciadas em sexo que estimulavam Avelino ao hábito da pornografia.

-  Eles não podem nos ver. Explica pai Joaquim. Trouxe você aqui a pedido de Aureliano, o guia espiritual de Avelino. Ele tem esperança que você consiga mostrar-lhes o quanto o cultivo da inferioridade traz intensas angústias emocionais.

-  Mas, como posso fazer isso? Indaga Felipe.

-  Nosso obrigação é socorrer aqueles de desejam ser amparados e nunca impor nosso desejo na vida dos outros. Explica pai Joaquim e pede, observe a estante de livros.

Felipe curioso percorre os títulos dos livros e para sua surpresa ali vê o Livro dos Espíritos e o livro Renúncia, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

-  Se ele for capaz de ler com desejo sincero de aprender estes dois livros,a vida dele mudará completamente. Avelino tem a missão de trabalhar como médium de cura, mas se continuar cultivando suas paixões inferiores, em breve arruinará a própria missão reencarnatória. Explica Aureliano com uma voz que expressa preocupação por seu protegido.

-  O que nós te pedimos é que o incentive a ler estes livros que foram um presente que Aureliano inspirou que dessem ao pai dele na empresa que trabalha.

-  Como farei isso? Indaga Felipe curioso.

-  Nós faremos que, em uma conversa entre vocês, o assunto mediunidade surja “ao acaso”. Quando isso acontecer, basta que você se permita ser inspirado e pai Joaquim dará as orientações. O mais importante é que você consiga incentivá-lo a ler estes livros. Pelo menos, O Livro dos Espíritos. A partir daí terei condições de o orientar melhor. Explica Aureliano.

-  Podem contar comigo! Diz Felipe feliz em poder ajudar e em ver como são dedicados os guias espirituais.

Se todos soubessem que existem espíritos elevados cuidando de sua evolução... Pensa Felipe.

-  Saberão. Responde Aureliano, e seu trabalho com o Gabriel vai ajudar muitos a entenderem isso. Conclui.

Felipe olha para pai Joaquim espantado não com a leitura de seu pensamento, mas com aquela revelação, como ele saberia sobre sua ligação com Gabrie?

-  Ora, Felipe, diz Aureliano descontraído. Você não acha que trabalhamos isolados, acha?! Meu Avelino vai trabalhar com vocês no mesmo centro espírita! Essa é a programação dele.

-  Está explicado. Diz pai Joaquim feliz com mais um compromisso assumido por Felipe.

Ele sabe que apenas nos ocupando cada vez mais com as tarefas do bem é que crescemos.

Felipe acorda feliz. É sexta-feira. Na escola, durante a aula, começa a lembrar mais detalhes do sonho com o guia de Avelino. Ora em silêncio e envolve Avelino em boas energias. É o início da ajuda. À noite, sente-se um pouco sozinho. Lembra-se de que no futuro terá amigos com as mesmas afinidades. Resolve ouvir um podcast espírita, o PodSim e depois, ler um bom livro espírita. Domingo será sua primeira aula. Quero estar preparadíssimo! Pensa antes de dormir.

 

Capítulo II

 

O Medo de Deus

 

Domingo, duas da manhã, Felipe aguarda Gabriel na entrada da escola. Gabriel chega feliz e cumprimenta Felipe com alegria.

_  Tão cedo? Indaga Gabriel.

 _ Resolvi me preparar o melhor possível. Comenta Felipe.

 _ Ótimo! Você está muito bem, não se preocupe. Temos quarenta minutos, que tal caminhar um pouco pelos jardins? Indaga Gabriel.

-   Vamos, é uma excelente oportunidade para você me falar de nosso futuro trabalho. Fala Felipe e acrescenta, é melhor eu falar, pois se apenas pensar você vai saber do mesmo jeito! Explica Felipe brincando.

-   É verdade. Diz Gabriel. Partem.

Ao caminhar pelo jardim, Felipe tenta organizar o pensamento para aproveitar cada minuto. Gabriel, compreendendo que não teriam tempo para todas as explicações no momento, inicia a conversa explicando.

-  Felipe, não se preocupe tanto em entender neste momento todos os detalhes de nossa tarefa. Após esse curso, você vai ser capaz de matricular-se em um curso inicial sobre planejamento reencarnatório em que  vai lembrar-se de seu planejamento e eu vou poder apresentar-lhe o meu. Para vivenciar tudo isso, é essencial cuidar sempre da educação emocional e intelectual.

-  Que interessante! Comemora Felipe.

-  E tem mais, sermos capazes de regredir e lembrar todo o planejamento no corpo físico. Não se preocupe, nossa equipe é bem qualificada para essas experiências educacionais.

-  Educacionais? Felipe não entende.

-  Claro Felipe. O objetivo maior é sempre a educação espiritual. Libertar o ser da animalidade, da ignorância, da maldade. Regressão tem a finalidade maior de elevar o espírito encarnado ou desencarnado. É indispensável ampliar a consciência, inclusive, para que se tenha a humildade de aceitar o estágio em que cada um se encontra sem se acomodar.  

-  É verdade. Diz Felipe.

-  Vamos? Faltam vinte minutos.

Felipe resolve não perguntar como ele sabia sem olhar um relógio...

Sobem os três primeiros andares conversando. Felipe para no início do quarto. Gabriel olha para Felipe, abraça-o com carinho e diz: vamos, você já está preparado para subir.

_ É? Como?

_ Apliquei-lhe as energias necessárias. Pode confiar. Diz sorrindo.

Felipe respira fundo. Ganha coragem. Sobe. Sente um pouco de mal estar.

_ Continue, diz Gabriel. Eu falei que você conseguiria, não disse que seria confortável.

_ Sinto-me muito mal. Fala Felipe.

_ Continue e tudo passará. Incentiva.

Por que sento tanto incomodo? Pensa Felipe.

_ É sua adaptação energética. Coragem. Os covardes não evoluem. Fala Gabriel com firmeza ao ver que Felipe quer parar.

Felipe para, pensa em voltar.

_  A decisão é sua. Fala Gabriel, mas gostaria que trabalhássemos juntos.

_Sinto que estou morrendo. Explica Felipe.

_ Sim, é o início da morte de sua inferioridade, amigo. Explica Gabriel.

_ É muito ruim!!!

_ Pior é viver inferiorizando-se como muitos fazem...

Felipe se lembra de Avelino. Não queria ter uma vida como aquela, mas não se sente com forças, teme.

-  Estarei na sala. Você tem dez minutos. Fala Gabriel com ternura.

Ao vê-lo partir. Felipe olha para trás. Está exatamente no meio da escada. Descer é mais fácil. Pensa. A sensação de morte é intensa. Felipe faz uma prece. Lembra-se do dia de sua iniciação. Lembra-se do rosto de Eurípedes, que é sua inspiração de conduta. Ganha coragem. Sobe calmamente, suportando angústias terríveis. Chega ao quarto andar. Chora emocionado. Um imenso bem-estar invade todo seu ser. Sente-se leve. Flutua até a porta da sala. Entra. Senta-se ao lado do amigo. Gabriel sorri profundamente feliz.

-  Nunca nosso Mestre prometeu facilidades. Ele subiu o calvário e terminou crucificado por amor à Humanidade. Diz Gabriel olhando para Felipe.

Felipe sorri, existem vitórias que são tão profundas que dificilmente conseguimos expressar seu valor. Ficam em silêncio.

Após quinze minutos de completo silêncio. A projeção começa. A turma é formada por poucos alunos, são eles: Rivalina; Eclésio, Romildo e Astrobrito. Dois professores: José e Patrícia. Eurípedes Barsanulfo está presente. Felipe alegra-se ao ver o mestre que tanto admira.

Após a prece, explica o diretor do colégio.

 

Amados condiscípulos,

Estudaremos um fenômeno que acontece, atualmente, com muitos espíritas: o medo de se espiritualizar. Nosso estudo tem objetivos de extrema relevância, particularmente, neste momento de transição da Terra, que na verdade é um momento de decisão para todos nós. Devemos optar pelo sacrifício da animalidade que ainda cultivamos ou pela satisfação de nossas paixões inferiores, distanciando-nos de nossas metas espirituais e do Cristo.

A espiritualização do ser está intrinsecamente relacionada com a mediunidade. Por isso, é importante entender sua função no processo de evolução. A mediunidade pode, e deve, nos auxiliar em um dos momentos mais dramáticos de nossa jornada espiritual. Compreender a mediunidade não é simplesmente ser médium ostensivo, mas saber utilizá-la como alavanca de estímulo para a própria ascensão espiritual em todos os instantes da vida, vivendo no mundo da matéria densa ou da matéria sutil.

José Herculano e Patrícia são os responsáveis por este curso que é assistido por milhares de espíritos que cometeram o grave erro de fugir de seus compromissos com a Lei de Deus. Bem como, por aqueles que tem a missão de dinamizar o movimento espírita, estimulando a espiritualização de seus integrantes. Parabenizo a todos pela coragem de se candidatarem a este curso que trará novas responsabilidades a todos. Nosso empenho deve ampliar-se até o momento em que banirmos a ignorância espiritual da Terra sob o comando do Cristo. Encerra Eurípedes.

Os professores José e Patrícia, que gostam de serem chamados desta forma simples, se levantam e agradecem a Eurípedes que se despede de todos. É fácil observar, por seu sorriso, como o mestre de Sacramento ama o trabalho da educação espiritual.

José, o maior estudioso do Espiritismo no Brasil,  dirige-se à turma.

_ Sejam bem-vindos! Para quem não me conhece, sou José. Ministrarei a aula de hoje com o apoio de Patrícia. Nosso tema:

 

O medo que tens de Deus.

 

Observem que utilizamos processos já conhecidos pelos espíritas encarnados desde, pelo menos, a década de 1950, com a publicação do excelente livro Memórias de um Suicida, psicografado pela médium Yvonne do Amaral Pereira, exemplo de dedicação à mediunidade.

Ele se concentra, com o auxílio de Patrícia e de um sofisticado equipamento, projeta imagens em uma imensa tela que está a nossa frente. Assistimos com grande emoção o diálogo, narrado no Novo Testamento de Jesus com a samaritana. Não é uma representação, vemos a cena real do Cristo conversando com a mulher da Samaria.

 

≈≈≈≈≈

 

Jesus está sentado sozinho, perto de um poço. A beleza do Cristo é indescritível! Neste momento, aproxima-se uma mulher. É dia e os discípulos foram a cidade comprar mantimentos.

Ao ver uma mulher aproximar-se do poço de Jacó, Jesus pede água à mulher.

Ao que ela responde de forma rude: não tenho água e você não pode me pedir água. Judeus não falam com samaritanos, muito menos com uma mulher samaritana!

Responde Jesus com ternura: se Deus te revelasse quem eu sou, vocêé que me pediria a água da vida.

Fala a mulher, olhando para Jesus e achando muito estranho o que ele disse: o senhor não tem nem balde para tirar água do poço, como vai ter essa água da vida?  Vocêé maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço que ele mesmo utilizou para seus filhos e animais?

_ Todos os que beberem da água deste poço terão sede novamente, mas aqueles que beberem da água que tenho, nunca mais terão sede. Pelo contrário, a água que eu dou se torna uma fonte de água que jorra eternamente. Explica o Cristo.

_ Senhor, eu quero essa água, para que eu não mais tenha sede, nem tenha que vir aqui para  tirar água. Pede a samaritana.

_ Vai e chama o teu marido. Responde Jesus.

Responde a mulher envergonhada: senhor, não tenho marido.

É verdade que não tens marido; porque já tiveste muitos maridos e o que agora tens não é teu marido. Isso é verdade. Afirma Jesus.

Surpresa a mulher responde: senhor, vejo que és profeta!  Explica-me: Nossos pais adoram este monte,  vocês, judeus, dizem que é em Jerusalém que se deve adorar a Deus. Quem está com a verdade?

- Mulher, aceita meu testemunho. No futuro, nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vocês adoram o que não conhecem. Eu adoro o que conheço. Os verdadeiros adoradores adoram o Pai em espírito e em verdade. É assim que o Pai deseja ser adorado. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram O adorem em espírito e em verdade.

- Senhor, eu sei que vem o Messias, quando ele chegar vai nos explicar todas as coisas.

- Sou eu o Messias. Eu que falo contigo.

           Nesse momento, chegam os discípulos e a mulher samaritana vai até a cidade dar o testemunho de seu encontro com o Cristo.

≈≈≈≈≈

 

Após a exibição, indaga o professor:

- Jesus sabia que, segundo os costumes de época, um homem não poderia abordar uma mulher no espaço público e também que ele não deveria falar com uma samaritana, pois era judeu. Então por que o fez?

- Para ensinar algo importante, responde Rivalina.

- Certo que ensinou. Mas não poderia ter ensinado em uma ocasião em que não precisasse afrontar os costumes?

- Sim...

- Por que fez isso? Pergunta novamente.

- Porque estava com muita sede! Brinca Eclésio.

- Não é este o caso. Responde o professor bem humorado.

- Para mostrar que não devemos ser escravos de costumes que não tem fundamento na moral verdadeira, diz Patrícia.

- Exatamente. O que acontece depois? Indaga José.

- Ele fala da vida dela... Comenta Rivalina

- Com que objetivo? Qual o propósito do Mestre em lidar com um assunto pessoal da mulher samaritana?

- Para ensiná-la... Aventura uma resposta Romildo.

- Sim, para demonstrar que a percepção do espírito vai além da matéria e, consequentemente, existe vida espiritual. Com isso, o Mestre ganha a atenção da mulher samaritana que a utiliza para fins elevadíssimos. Observem que isto está completamente relacionado com a mediunidade. Afirma o professor e, em seguida, indaga.

- Qual a primeira pergunta que a samaritana faz a Jesus?

- Onde se deve adorar a Deus. Diz Astrobrito.

- Observe que ela tinha uma vida emocional confusa, mesmo assim a questão central de sua vida é Deus. Se ela soubesse direcionar adequadamente suas energias em busca de Deus, de sua espiritualização, teria sublimado seus conflitos de sexualidade e conquistado uma vida equilibrada.  Direcionar as energias psíquicas em busca de Deus é a função da mediunidade. O que fez a mulher samaritana após encontrar a Verdade? Indaga José.

- Foi à cidade anunciá-la. Diz Eclésio.

- É isso que deveriam fazer os espíritas encarnados! Não falo de propagandismo vaidoso, mas a apresentação do fenômeno mediúnico de maneira natural e séria. É preciso superar os preconceitos contra a Doutrina Espírita e instalar no mundo a convicção da imortalidade. Explica o professor.

Foi exatamente o que o professor fez quando encarnado. O amor à verdade e o sacrifício pessoal em favor da educação espiritual dos encarnados foi a marca de sua existência. Pensa Felipe que durante a semana leu um livro sobre a vida dele. Herculano Pires, o apóstolo de Kardec de Jorge Rizini.

Após olhar a todos, continua.

- A mediunidade é canal de comunicação em variados sentidos: é canal de intercâmbio espiritual, é canal de busca da criatura para o Criador, é canal de manifestação da misericórdia divina. A mediunidade é a origem dos Dez mandamentos, dos Evangelhos, do Hinduísmo, do Budismo e do Islamismo. A mediunidade é a fonte de todas as religiões e filosofias espiritualizantes dos mundos. Temer a mediunidade é afastar-se do Criador. Sem a mediunidade, o ser estaria condenado a permanecer animalizado, isolado da influência espiritualizante de seus guias espirituais e do Cristo. Ela é o meio de contato entre Criador e criatura. É faculdade sagrada que os grandes iniciados e os apóstolos honram ao longo dos milênios e que, os que aqui estão, combateram movidos por covardia e por vis paixões. Não vos enganeis: tolher a mediunidade é querer loucamente tolher a obra de Deus.

 

Nesse momento, o professor pega e lê a questão 659 de O Livro dos Espíritos.

 

Qual o característica geral da prece?

 

– A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nEle, aproximar-se dEle, pôr-se em comunicação com Ele. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.

 

Após a leitura, explica.

- Utilizamos avançados princípios educacionais  com o intuito de vos ajudar a vencer o preconceito, que é medo disfarçado. Apesar de vocês terem sido espíritas na última existência, ainda carregam bloqueios em relação a essa faculdade sublime. Isto impede a vossa própria espiritualização e estimula terríveis quedas morais. Não os condeno, mas teremos que abordar este tema considerando a necessidade que vocês possuem de entender e de amar a mediunidade. Trabalhamos para ajudá-los a superar este medo que é, na verdade, medo de se comunicar com Deus. Alguma questão?

Todos ficam em silêncio. O amor à verdade e à simplicidade estão presentes em cada palavra de nosso professor.

- Vamos formar duplas para compartilhar uma importante experiência mediúnica que vocês vivenciaram. Relacionem essa experiência com o tema que estudamos, o medo de Deus e dos espíritos. Cada um precisa entender como sua história reencarnatória se relaciona com os bloqueios em relação a mediunidade. Explica José.

Formam-se as duplas: Patrícia e Rivalina; Astrobrito e Romildo; José e Eclésio. Segundo a metodologia educativa do colégio Allan Kardec, todo tema estudado deve ser relacionado com a vida emocional dos educandos. Ela previne que se formem pseudo-sábios, cheios de teorias confusas e vazios de sentimentos elevados.

 

I - Rivalina e Patrícia.

 

Rivalina começa.

- Sabe Patrícia, quando eu tinha 19 anos, não sabia que curso universitário seguir, sentia que seria uma escolha importante não apenas materialmente, mas que estava ligada a um compromisso espiritual. Conversava muito com uma amiga que dava aula comigo na evangelização infantil e ela sugeriu que eu rezasse e pedisse orientação ao meu guia espiritual, achei a ideia boa e segui o conselho. Orei com muito fervor por um bom tempo. Nada acontecia, mas eu continuava orando... Depois de um certo tempo, senti que adormecia de maneira diferente, ouvi uma voz suave que dizia.

- Filha, estou aqui. Vim buscá-la para te mostrar os compromissos assumidos.

- Senti muita paz, mas quando me dei conta que estava vivendo um fenômeno mediúnico, assustei-me. Gritei e bem alto. Não quero! Não quero! Despertei e não dormi mais. Repeti mil vezes que não queria saber de nada... Algumas vezes, meu guia ainda tentou se aproximar, repeli-o violentamente. Obviamente, nunca participei de reunião mediúnica e nem queria saber! Tempos depois, outra amiga me convidou para assistir uma reunião mediúnica, depois soube que estava intuída pelo meu guia. Nem pensar, disse convicta, e deixei bem claro: não queria saber de reunião, de mensagem nem de nenhuma história de mediunidade. Fui tão enfática que ela nunca mais tocou no assunto. Pouco a pouco fiquei com medo de me concentrar e depois até de rezar com devoção... Você sabe, a oração é uma comunicação vibratória e telepática e eu não queria nada de fenômeno mediúnico. E uma coisa leva a outra... Isolei-me dos estímulos espiritualizantes e, consequentemente, animalizei-me. Animalidade atrai animalidade. Não rezava de verdade, vivia ansiosa e insegura, busquei segurança no dinheiro. Na prática, distanciei-me de Deus. O pior foi induzir, pelas minhas vibrações e pensamentos, tantas crianças a agir como eu agia. Eu ensinei o medo à mediunidade! Eu sei exatamente o que o professor está dizendo, sofro constantemente com isso... Só depois soube o tanto que perdi! Uma programação excelente! Seria uma orientação excepcional. Eu ficaria cada vez mais próxima do meu amigo espiritual. Ele me ajudaria a vencer todas as dificuldades da vida.  Saberia exatamente o que deveria fazer... Mas não soube e não fiz! Dolorosas lágrimas escorrem dos olhos de Rivalina. Patrícia abraça-a com ternura, enxuga suas lágrimas. A situação de Rivalina é triste, o fracasso reencarnatório dificilmente é recuperado no mundo espiritual, quase sempre são séculos de preparação e recuperação para que se supere os erros tão infelizes.

Após ampará-la Patrícia fala. 

- Iniciei-me no Egito antigo. O teste era muito severo e os reprovados não sobreviviam. Para mim, valia a pena o risco. Aprofundar meus conhecimentos sobre a criação material e espiritual, que eu já compreendia que são integradas, era o meu maior interesse. Apesar de meus pais serem muito ricos, optei por uma vida austera que me aproximaria do Criador.  Fui aprovada. Em minha primeira reunião, que hoje chamaríamos de mediúnica, com pessoas educadas e moralizadas, soube de minha missão na Terra. Aproveitei essa informação para me preparar emocional e intelectualmente e executá-la da melhor forma possível. Devido ao meu esforço sincero, fui orientada constantemente pela intuição, em meus desdobramentos e por outros médiuns. O objetivo era sempre muito sério, não cabia curiosidade tola. Dialogando com os bons espíritos e ajudando no socorro aos espíritos inferiores pude conhecer minhas fraquezas e a forma de superá-las. O contado equilibrado com os espíritos sempre foi um excelente auxílio para minha evolução. Eu e meus orientadores não nos enganamos sobre as minhas imensas necessidades espirituais e nunca perdemos tempo em tolas cogitações de missões vaidosas, isso seria agir com leviandade em relação a obra do Altíssimo, que cultuávamos diariamente por meio do dever de nos melhorar e de auxiliar os homens ignorantes.

- Mas isso não é perigoso? Indaga Rivalina.

- Certamente é, se não for conduzido com seriedade e verdadeira devoção. Aproximar-se do Criador requer desejo de verdadeira renúncia à animalidade. Não foi assim que ensinou Jesus? Há um perigo maior quando adultos e jovens destroem seus psiquismos com drogas e sexo desequilibrado. Há, também, um perigo imenso na vulgaridade do dia a dia que a sociedade aceita como “normal”. Isso, para mim, é muito mais temerário!

- Mas o Espiritismo não é contra? Rivalina está apavorada.

- O Espiritismo é a maior revelação da história do mundo. O que falta é vivenciá-lo. Espíritos superiores são contra, e sempre serão, a todo desrespeito à obra do Criador: como a destruição irresponsável da natureza, o desamparo aos mais fracos e as relações mediúnicas conduzidas por interesses inferiores e por exibicionismo como faz parte o atual movimento espírita no mundo da matéria densa. Isso é diferente da busca pelo conhecimento aprofundado das manifestações do amor de Deus. O problema é a vulgaridade de muitos que não veneram o Criador em seus pensamentos e ações. Para mim, foi muito importante saber qual era a minha missão. A revelação de minha missão veio por diversos meios e isso é importante para evitar enganos. É muito importante saber o que se deve fazer no mundo para não fracassar. Patrícia, serena e segura, assombra Rivalina com suas palavras plenas de sabedoria imortal.

 

 

 

II – José  e Eclésio.

 

Eclésio começa.

- Eu dirigia uma reunião mediúnica, lia as obras de André Luiz e de Emmanuel, mas não via nenhum problema em me divertir. Dizia quando encarnado, não pode ser tão grave assim. Não tem nada demais! Não conseguia aceitar que algumas farras pudessem ser algo grave. Quando os livros tocavam nesses assuntos, eu fazia leitura rápida ou pulava as páginas. Assim ia levando a minha vida... Começaram a vir algumas mensagens de nossos dirigentes espirituais. Não falavam diretamente, mas eu saiba que eram para mim. Simplesmente, não ouvia. Aos poucos, eles foram trazendo desencarnados que tinham vivido experiências semelhantes a que eu vivia, alguns até viveram nos lugares que eu frequentava, pois a descrição era muito semelhante! Pouco a pouco, fui ficando constrangido e com raiva... Não suportava a ideia de ter que manter um compromisso constante com a espiritualidade e comecei a atacar a mediunidade porque ela simbolizava esse compromisso! Como fui ingênuo! Só depois entendi que o compromisso é, acima de tudo, com a Lei de Deus. Agora, entendo que a mediunidade é um poderoso meio de auxílio para cumprirmos essa Lei e não um entrave a minha liberdade como pensei.

- Como você lidou com esse sentimento? Pergunta José.

- Sentindo-me culpado, comecei atacar todos. Cobrava dos médiuns uma conduta perfeita. Acusava-os por qualquer dificuldade natural do processo de intercâmbio. Padronizava roupa para a mediúnica, tinha que ser da cor que eu aprovasse. Em relação à alimentação era ferrenho. Se soubesse que alguém tinha cometido um pequeno deslize, tratava-o como um grave criminoso. Estipulei até a idade para participar das reuniões, tinha que ter mais de 18 anos, como se maturidade espiritual se medisse pela idade penal da Terra! De tanto acusar e de tanto culpar, consegui o que inconscientemente eu queria: afastar todos da mediunidade e impedir que outros tivessem contato com ela. A voz de Eclésio está sufocada, revela o intenso conflito que ele vive.

 José olha-o com compaixão. Como não lamentar alguém que tenta barrar a espiritualização de si mesmo e dos outros?  Como não lamentar alguém que quis mandar na obra de Deus?

 Inicia o professor.

Uma das mais belas experiências mediúnicas que tive foi com materialização. Ao observar com toda clareza e com absoluta certeza de que se tratava de entidades, de espíritos materializados, emocionei-me até as lágrimas! Nunca podia imaginar poder na Terra viver uma experiência tão simples e tão profunda. Ali, diante de mim, desabava todas as pretensas filosofias da negação. Todas os sistemas preconceituosos que negavam a imortalidade. Apiedei-me de tantos intelectuais que buscavam a verdade em meio a tantos engodos... Gostaria de poder convidar a todos e lhes desvelar que o universo é maior e mais generoso do que podemos imaginar...

-  O que você fez? Indaga Eclésio.

-  Mantive viva essa experiência em meu coração e com tristeza entendi que, para mim, ela foi transformadora, mas não seria para todos. Meu amigo, os fatos elevados da vida são como a boa música. Só gosta quem tem ouvido afinado. Explica brincando e continua, por isso, tratei de colaborar para afinar o gosto espiritual dos espíritas e dos não espíritas. Somente amando verdadeiramente Kardec podemos ter vivencias mais elevadas e tirar delas o máximo de ensinamentos e impulsos espirituais.   

- Você realmente gosta das atividades mediúnicas? Pergunta Eclésio.

- A mediunidade é  a grande impulsionadora da transcendência. Como está no Evangelho, é preciso desapegar-se do mundo para conquistar o Reino prometido pelo Cristo. A mediunidade gera o fato que justifica o abandono das ilusões do mundo. Sem ela, o espírito não se convence que deve caminhar para Deus e fica enleado nas ilusões de um dia e nas amarguras de longa duração.

 

III – Astrobrito e Romildo.

 

- Comecei a ler os clássicos do Espiritismo, não para entender, mas para expor minha inteligência e meu saber, queria ser admirado! Com o tempo, via que deveria fazer algo, ser útil, servir de alguma maneira. Os próprios amigos, inspirados pelo meu guia, falavam que eu sabia tanto que devia colaborar um pouco mais, além de simplesmente fazer palestras. Acabei indo participar de uma reunião mediúnica e dei-me conta de que as atividades espíritas, na verdade qualquer atividade que espiritualize o ser, envolve sempre responsabilidade e dedicação. Isso eu não queria! Mas eu não podia simplesmente desistir... E meu status? Minha fama de grande intelectual?! Comecei a tudo complicar para fugir. Tornei-me um crítico severo de tudo, tudo era mistificação ou animismo – como se o animismo não fosse natural e parte de todos os fenômenos mediúnicos...Mas as pessoas não sabiam disso. Eu fui afastando todos porque minha opinião era respeitada. Médiuns honestos, mas despreparados, desistiram de cumprir suas tarefas, pensando que estavam enganando a si mesmos... A reunião acabou e aparentemente eu fiquei com a razão, tinha salvo todos das mistificações! Mas a verdade é que apaguei a luz que a Providência Divina tinha posto em minhas mãos... Não quero falar como desencarnei... Conclui Astrobrito soluçando.

- Nem precisa meu amigo, diz Romildo, meu caso é parecido. A única diferença é que eu agia para mandar e quem não me obedecesse era expulso por estar obsediado ou por ser desonesto! Recebi muitos alertas mediúnicos ao ponto de cancelar a reunião que dirigia para não recebê-los mais! Era o presidente do centro espírita e ameaçava quem ousasse me entregar qualquer aviso dos espíritos amigos.

- Como eram as mensagens que você recebia? Indaga Astrobrito.

- Essencialmente falavam da importância da cooperação. Da necessidade de anular minha vaidade em função do grupo. Afirmavam a necessidade de nos ajudarmos uns aos outros, de orar uns pelos outros, de desenvolver relações afetivas saudáveis, de valorizarmos o talento de cada um e exercitar a humildade na análise lúcida de todas as comunicações, tratando a todos como amigos de aprendizado.

- E como você reagia? Pergunta Astrobrito.

- Eu aceitava as mensagens elogiosas! Se não fosse elogio era fraude! A mediunidade deveria estar submetida a minha autoridade. Conclui Romildo.

Nesse momento, o professor propõe outra atividade. Explica que devemos expressar artisticamente, pelo teatro, as situações narradas, mas, ao invés dos erros cometidos, como cada um deveria ter agido. A expressão artística elevada é sempre um forma de espiritualização. Considere isso em sua vida: todos podemos criar, ser artistas, pelo menos, em algumas áreas.

Felipe assiste às apresentações emocionado. Como seria diferente se tivessem agido de forma diferente, agora estariam plenamente felizes. Pelos menos, agora, estamos todos aprendendo. Pensa.

Após as apresentações, a prática. Educação verdadeira sempre tem prática! Os alunos diretos e os do quarto andar vão auxiliar uma reunião mediúnica que socorre espíritos que lutam contra o Cristo, estimulando os medos em relação à mediunidade dos espíritas encarnados. Foi uma grande experiência e uma oportunidade para todos se conhecerem melhor.

 

Capítulo III

 

Os Educadores da Humanidade

 

Felipe, Gabriel e muitos outros alunos aguardam o início da aula em silêncio.

A subida teve as mesmas dificuldades, a diferença é que Felipe entendeu que é necessário enfrentar o mal-estar interior para crescer espiritualmente. Subiu, sofreu e venceu sem reclamar. Gabriel olha feliz o amigo que se dispõe a aprender com boa vontade.

Patrícia se levanta, faz a prece inicial. Em seguida anuncia o tema da aula.

 

Os verdadeiros educadores da Humanidade: os espíritos.

 

As luzes da sala diminuem. É apresentado uma sucessão de cenas dos mais diversos tipos de adoração ao longo da história.

Após a exibição das cenas, indaga Patrícia.

- Qual a questão central em todas essas cenas?

- Como adorar a Deus. Diz Eclésio.

- O que significa adoração em seu sentido profundo? Pergunta novamente Patrícia.

Ante o silêncio de todos, explica José.

- Relacionar-se intimamente com Deus, reconhecer a necessidade que temos de Seu amor e sentir que Sua infinita sabedoria jamais nos desampara.

Patrícia agradece a ajuda e continua.

- Todas as religiões e crenças na imortalidade existem no mundo por causa da mediunidade.É certo que o espírito tem em si a intuição da existência de Deus e de sua imortalidade, mas somente por meio dos fenômenos mediúnicos a intuição se torna convicção. Apenas quando o ser age com convicção tem poder suficiente para se melhorar e para melhorar o mundo. A imensa batalha entre luz e trevas é vencida quando o ser espiritual aprende a se comunicar com os seres espiritualizados e seguir-lhes as sugestões. A evolução do espírito através dos tempos é inseparável da história da mediunidade, não se pode entender a evolução humana sem compreender a importância da relação entre encarnados e desencarnados.

Patrícia pega O Livro dos Espíritos, mostra-o e afirma: por milênios foram necessários sacrifícios incontáveis para termos acesso às grandes verdades espirituais, mas, desde 1857, por ordem direta do Cristo, as mais elevadas verdades espirituais foram reveladas a todos por meio da Doutrina Espírita! Infelizmente, muitos ouvem, mas não escutam; olham, mas não veem; muitos leem, mas não entendem. Não é ausência de inteligência, é ausência de humildade verdadeira e de desejo sincero de servir. É necessário se fazer humilde para que se escute a doce e poderosa voz do amor de Deus.

Ela o abre e lê.

 

616. Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes proibiria em outra?

– Deus não se engana; os homens é que são obrigados a modificar as suas leis, por serem imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade.

 

621. Onde está escrita a lei de Deus?

– Na consciência.

 

Reflitam atentamente sobre essas duas importantes questões. É preciso destacar três aspectos: primeiro, os homens devem adaptar-se às Leis de Deus, e não tentar negá-las. Segundo, as Leis de Deus estão na consciência, isto é, elas não têm origem externa. Terceiro, viver as Leis de Deus é uma necessidade íntima da criatura, é uma necessidade psicológica, consequentemente, felicidade só existe no cumprimento das Leis de Deus. Contrariar essas leis é o comportamento típico dos espíritos revoltados e infelizes. Podemos ter momentos de revolta, de pouca lucidez e de fraqueza, mas não devemos transformar a nossa vida em revolta e negação. É necessário oração e humildade, é necessário reconhecer a grandeza do Pai e nossa pequenez, é necessário agir com ética, disciplina e confiança. É preciso entender: as Leis de Deus estão sempre certas, independentemente dos hábitos e costumes sociais. A mediunidade, embora tenha um componente orgânico, é faculdade do espírito e não do corpo, enquanto existir espírito existirá mediunidade, isto é, eternamente. Em planos superiores, a mediunidade é instrumento de ação diária: crianças fazem suas pesquisas escolares com auxílio de suas faculdades; cientistas, após laboriosas pesquisas, discutem com espíritos mais elevados suas conclusões; o Cristo a utiliza para dialogar com Deus.

Patrícia para um instante, olha a todos e prossegue.

- É hora deste modelo superior ser implantado na Terra. A telepatia, a vidência, psicografia, a materialização, o sonambulismo lúcido e outras formas de manifestações mediúnicas, se tornarão tão comuns que os jovens irão perguntar como vocês conseguiam viver tão distantes da espiritualidade maior.

- Mas será que o movimento espírita encarnado irá “deixar” isso acontecer? Indaga, timidamente, Eclésio.

- Eclésio, quando falamos de Lei de Deus e de ordem do Cristo, o que pode o preconceito de alguns pobres homens? Garanto-lhe: a profecia de Joel  se cumprirá e o espírito se derramará sobre toda a carne e se os espíritas se calarem até as pedras falarão.

- E as materializações e os efeitos físicos voltarão? Indaga Romildo assombrado.

- Sim. Os efeitos físicos se farão presentes em abundância. Mas o plano é muito maior. O cinema já iniciou sua tarefa, livros serão escritos, pesquisas e documentários serão realizados. Por ordem do Alto, chega o fim da fase de alienação espiritual da Terra! O homem encarnado irá aprender a lidar cotidianamente, de forma lúcida e ética, com o mundo espiritual. Para entendermos isso, uma terceira questão de O Livro dos Espíritos deve ser analisada.

 

668. Os fenômenos espíritas, sendo produzidos desde todos os tempos e conhecidos desde as primeiras eras do mundo, não podem ter contribuído para a crença na pluralidade dos deuses?

 

Sem dúvida, porque aos homens, que chamavam deus a tudo o que era sobre-humano, por isso, os Espíritos pareciam deuses.É também por isso que, quando um homem se distinguia entre os demais pelas suas ações, pelo seu gênio ou por um poder oculto que o vulgo não podia compreender, faziam dele um deus e lhe rendiam culto após a morte.

 

-  Por que muitos negam a mediunidade? Indaga Patrícia.

-  Por ignorância. Afirma Romildo.

- A verdade é que muitos que “conhecem” a Doutrina Espírita tornam-se grandes opositores das práticas mediúnicas. Explica Patrícia.

Muitos ficaram chocados como aquela colocação, pois essa é a realidade de nosso grupo. Ao observar o clima de constrangimento, ela afirma.

- Não estamos aqui para acusar ninguém, mas vocês não devem continuar com a mesma conduta de sempre: discutindo como se o problema não estivesse dentro de vocês. Cada um aqui optou por se acomodar em relação aos compromissos mediúnicos. É necessário uma reflexão sincera.

Após uma pausa, pergunta novamente.

- O que leva a muitos a negarem a mediunidade e até mesmo combatê-la, mesmo sabendo que ela é uma faculdade inseparável do ser?

- Acho que um dos motivos é o medo, responde Rivalina.

- Sim, é verdade; mas medo de quê? Pergunta Patrícia.

- Não sei, diz Rivalina.

- Este é o motivo mais preocupante, Rivalina. A grande maioria dos espíritas que teme a mediunidade sem sequer saber o porquê desse medo. Por isso, usam as velhas e desgastadas desculpas da prudência, do perigo e das regras sem sentido. É preciso que todos saibam que não devem atrapalhar a obra do Cristo por covardia. Enfrentar a si mesmo é digno, camuflar o medo atrapalhando os outros é farisaísmo como explica Jesus: fariseus são aqueles que nem evoluem nem deixam os outros evoluírem.

Ante o silêncio de todos, ela continua.

- Como fez Jesus e como exemplificou Eurípedes aos espíritas, devemos utilizar todos os recursos que Deus nos oferece para auxiliar a evolução espiritual de todos. Vamos relacionar a Doutrina Espírita com uma experiência pessoal ligada ao tema estudado. Eu ficarei com Rivalina e Romildo e o professor José com Astrobrito e Eclésio.

O objetivo é fazer cada um regredir em um momento de sua história que gerou o medo da mediunidade, pois só superamos o medo quando entendemos suas causas e como ele prejudica nossa vida. Vamos fazê-los regredir no tempo para encontrarem a origem de um problema atual que nasceu no passado. A educação deve tocar nos sentimentos, por isso, esse momento é tão essencial. A dinâmica se dá em um grupo único.

- Rivalina, o que você vivenciou em sua última encarnação, relacionado com o tema estudado, que você gostaria de entender melhor? Indaga o professor.

Ela responde um tanto constrangida.

- Sempre senti medo do que os sacerdotes falavam sobre a mediunidade. Sei que o Espiritismo é o Consolador. Sei que sem a mediunidade ele não existiria no mundo, ainda assim tinha medo da mediunidade por causa da proibição dos sacerdotes.

No colégio, os professores sempre se colocam como amigo dos alunos e nunca como julgadores inflexíveis. Querem sempre estimular o crescimento espiritual, por isso, nunca há condenação humilhante. O professor pede que Rivalina se deite, respire fundo e siga suas orientações. Depois de alguns minutos, as cenas de sua história, lembradas por ela, são projetadas em uma tela a nossa frente. Fora freira em três encarnações que assistimos. Em uma delas, presenciou a execução de Patrícia em praça pública. Sua fragilidade psíquica, o medo de sofrer, fez com que adquirisse verdadeiro pavor da mediunidade, motivo da condenação de Patrícia. Passou, por temor, a aceitar tudo que lhe diziam as autoridades eclesiásticas, inclusive a condenação do intercâmbio com os espíritos, que deveria ser exclusiva do alto clero católico.

- Qual a relação entre seu temor do clero católico e suas existências antes do Cristo? Indaga José.

Ela se assusta com a pergunta e nada responde.

- Fale-me da relação entre seu temor da condenação mediúnica pelo clero católico e suas vivências no período antes de Jesus. Estimula o professor.

- Eu...Eu... Não é possível...

Enquanto ela fala, as cenas são projetadas.

Fora, Rivalina, adoradora fanática de Osíris e, principalmente, dos sacerdotes egípcios. Renunciara sua vontade de pensar, de ser autônoma há muitos séculos. Tinha medo de ser rejeitada. Anulou-se ante a autoridade religiosa egípcia, anulou-se ante a católica romana e a “espírita”. Ela não se aceitava, por isso, seguia cegamente as autoridades. Assim se enganava, pensando que seria amada.

- Rivalina, observe tudo o que você viveu. Renunciar a sua capacidade de pensar e de buscar a verdade é o pior equívoco. Explica Herculano.

Rivalina está trêmula.

- Retorne. Orienta o professor e a abraça quando abre os olhos.

Os participantes estão estarrecidos, os alunos do quarto andar também. Os primeiros, por causa da regressão. Os do quarto andar por não conseguirem entender como espíritas com tanto “tempo de espiritismo” não tem a menor intimidade com esse fenômeno. Eurípedes, quando vivia em Sacramento, sabia até o nome da rua e o número da casa em que morava em sua encarnação anterior. E os espíritas atuais são tão ignorantes de seu passado como os materialistas...

Rivalina comenta que nunca teria imaginado que seu pavor pela mediunidade e seu comportamento de obediência cega tivessem origem tão remota e conclui.

- Triste cegueira milenar! O medo de não ser aceita pelos orgulhosos me distanciou de mim mesma e do Cristo.

- O medo não enfrentado torna-se nosso pior conselheiro. Temer não é o melhor caminho. Comenta o professor.

No grupo outro, Romildo fala à Patrícia que quer entender porque sentia tanta necessidade de controlar as mensagens mediúnicas que chegavam ao centro espírita que presidia.

- Mas ter controle das mensagens que os espíritos enviam não é obrigação básica de um dirigente espírita? Indaga Patrícia.

- Na verdade, eu quero dizer é que... Eu queria mandar nos espíritos que escreviam. Meu desejo era que eles só escrevessem o que me agradava e o que eu pensava. Diz constrangido.

- Entendo. Vamos buscar em você essa resposta. Concentre-se, vou induzi-lo a lembranças que responderão a sua pergunta. Concentre-se. Revele para você mesmo sua história! Fala Patrícia.

Nesse caso, a primeira encarnação estudada, ocorrida durante a Idade Média, aparentemente, não se relacionava com nenhum período antes da era cristã. Os professores querem que os alunos conheçam seu  passado antes da ida do Cristo ao mundo. Para que no próximo módulo, eles possam avaliar o quando aprenderam com o cristianismo primitivo. Patrícia que conhece técnicas poderosas e sutis de lidar com o inconsciente, induz Romildo a relacionar uma encarnação na Idade Média com uma no Egito, obtendo uma vivência muito profunda. Em ambas ele era poderoso. Seu poder era fundado no temor e no respeito que impunha. Ocupou alto cargo em ambas as encarnações. Possuía virtudes, mas não abriria mão do poder. O sentido de suas existências era mandar e ser obedecido.

Indaga Patrícia.

- Como você se tornou um perseguidor da mediunidade?

- Bem... Não tinha nada contra a mediunidade, na verdade sempre a utilizei...

- Mas, por que perseguir os médiuns?

Seu rosto alterou-se.

- Isso é outra coisa! Fala enraivecido.

- Explique-se. Insiste Patrícia com voz tranquila.

- São as mensagens... As mensagens... Eles me incomodam... Depois, começaram a ser motivo para me questionarem. Isso é inadmissível!

- Como você se relacionava com a mediunidade? Indaga.

- Eu consultava principalmente três sensitivos de minha inteira confiança até que dois deles começaram a me orientar, insistentemente, para que abandonasse meu cargo e minhas riquezas. Posteriormente, quando fui visitar o terceiro, que morava muito longe, o desgraçado me disse a mesma coisa! Percebi o quanto a mediunidade poderia ser perigosa... Não havia controle, não tinha como controlá-los... Ameacei com perseguição e morte, mas eles não se submeteram! Se aquelas mensagens se espalhassem poderia ser minha ruína, pois eram críticas diretas a minha conduta... Tinha até segredos... Decidi combatê-los com minhas armas e, em uma mesma semana, todos foram mortos por supostos assaltantes... Que pesadelo! Eles denunciaram o próprio assassinato por outros médiuns... Enlouqueci. Decidi desacreditar ou matar todos que não respeitassem minha autoridade! Descobri que intercâmbio com os espíritos é algo perigoso. Encontrei ótimo argumento: é o demônio que se comunica! Assim ninguém mais poderia me criticar. A não ser o demônio, completa com um sorriso sarcástico.

- Que justificativas íntimas, que ilusões, você mobilizou neste processo de combate aos fenômenos mediúnicos? Questiona Patrícia.

- Eu sou Deus! Eu sou um Faraó! Sou infalível. Eu sei a verdade e a represento. Não preciso e não quero nenhuma orientação espiritual a não ser que seja para me elogiar!

- Retorne Romildo. Lembre-se de tudo que nos contou. Orienta Patrícia.

Romildo está banhado de suor. Depois de voltar à consciência, chora amargamente.

Como tarefa final, orienta Herculano: esta semana vocês acompanharão espíritas encarnados que cultivam consciente ou inconscientemente ilusões pessoais inferiorizadoras como as que vocês estudaram hoje. O objetivo é auxiliá-los e aprender com suas histórias. Todo aprendizado deve ser transformado em serviço ao próximo.

Patrícia encerra com uma prece de agradecimento ao Criador.

Felipe acorda um tanto abalado. Nunca imaginou que os bloqueios em relação à mediunidade tivessem origem tão remota e motivos tão sérios. Achava que era apenas gostar ou não gostar. Ora e pede a Deus coragem para sua missão no mundo.

Levanta-se. É terça-feira. Tem aula e educação física. Antes de sair de casa, lembra: não leu o Evangelho Segundo o Espiritismo, mas já está em cima do horário... Pega-o para ler no ônibus. Abre-o ao acaso, e lê no capítulo XVIII, Bem Aventurado os Mansos, o item 9, Nem todos os que dizem Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos céus. É uma reflexão chocante, mas não se pode negar a verdade. Não basta se dizer espírita para crescer espiritualmente! Não era o que tinha comprovado no curso? Enquanto o ônibus segue o trajeto, Felipe pensa no desafio que é ser um verdadeiro cristão...

 

 

 

 

 

Capítulo IV

 

Autoritarismo e Liberdade Segundo a Lei Divina

 

 

- Hoje, concluiremos a primeira etapa de nosso curso. Após a avaliação de vossos desempenhos, que não se fará por provas escritas, mas pelas ações realizadas e pelos conceitos assimilados em profundidade, direcionaremos cada um para os estudos necessários. Os aprovados terão acesso ao curso sobre cristianismo e os fenômenos mediúnicos. O professor Ivan de Albuquerque desenvolverá o estudo de hoje. Inicia o professor José após a prece.

Felipe, no quarto andar, ouve feliz a explicação de José. Primeiro, porque ele está prestes a terminar o primeiro módulo e esta conquista lhe dá muita alegria! Depois, porque vai assistir uma aula do Ivan que tem como tarefa principal trabalhar com os abnegados jovens espíritas.

Todos estão em silêncio.

- Boa madrugada! Começa Ivan de forma descontraída.  O tema de nosso estudo.

Mediunidade Controle e Liberdade

 

Em seguida, projeta cenas de alguns fenômenos mediúnicos ocorridos nos oráculos – lugares de adoração da antiguidade - e um diálogo de dois sacerdotes sobre a importância deles controlarem como achavam melhor o fenômeno mediúnico. Depois, projeta cenas dos profetas Isaías anunciando a vinda do Cristo ao mundo mais de 700 anos antes de Seu nascimento e de Sócrates dialogando com seus discípulos.

Terminada as projeções, indaga.

- Questões?

- O fenômeno mediúnico que vimos em Isaías é mais elevado do que o do oráculo? Pergunta Eclésio.

- Observe que não é o tipo de fenômeno mediúnico que define a evolução do médium e do grupo mediúnico. A diferença está na maneira que o ser humano lida com esses fenômenos. Existem espíritas que afirmam que a materialização é fenômeno do passado. Quem os autorizou a alterar as leis de Deus? Santa ignorância! É o mesmo que dizer que os processos de digestão ou de respiração saíram de moda. A ânsia de crescimento espiritual, quando não atendida de forma justa, gera fantasias infantis e perigosas. O fenômeno mediúnico torna-se menos grosseiro, é fato, mas continua a existir e ser necessário como todos os processos naturais. O diferencia a vivência da mediunidade dos oráculos e dos profetas? Indaga Ivan.

- O oráculo tem um grupo de pessoas escolhidas, os sacerdotes, com poder exclusivo de interpretar as mensagens. Responde Romildo.

- É muito bom constatar que vocês estudaram. No futuro, o professor Herculano Pires irá ministrar um curso aprofundado sobre as etapas da evolução da mediunidade na Terra.

- E nós poderemos fazer esse curso? Indaga Astrobrito ansioso.

- Sim. Desde que tenha a disposição para vivenciar vossos conflitos interiores e superá-los. Deus é amor e misericórdia. Falta apenas que nos dediquemos ao nosso crescimento espiritual e tudo nos será dado. Cabe-nos, agora, entender as diferenças básicas: no processo evolutivo, uma forma de viver que foi útil em um momento se torna negativa em outro. A organização do oráculo é uma evolução em relação a vivência do fenômeno mediúnico nas tribos. Há uma preocupação moral em orientar a conduta dos homens, cria-se um grupo sacerdotal para esse fim. É um avanço neste período, mas por que depois se torna um obstáculo a evolução?  Pergunta Ivan.

- Nessa etapa da evolução, o oráculo é importante para orientar e dar segurança ao indivíduo, mas depois ele precisa aprender a caminhar com as próprias pernas e se sente sufocado com tanta regra e tanto segredo. Diz Rivalina.

- É verdade, com o tempo transformamos segurança em dominação. E o que fazer para que os homens não fiquem presos nestas estruturas que os manteriam dependentes? Questiona Ivan mais uma vez.

- É muito difícil deixar a falsa segurança, mesmo que ela seja uma prisão... Eu não saberia como fazer. Afirma Rivalina pensativa.

- Que tal mudar pelo exemplo? Indaga e explica. Com esse objetivo, foram enviados espíritos capazes de vivenciar a mediunidade livre dos dogmatismos dos sacerdotes como Sócrates e os profetas hebreus. Eles estabelecem um novo paradigma de relação mediúnica. São médiuns autônomos, moralizados, corajosos e livres. É uma vivência mediúnica superior. As regras continuam existindo e sendo necessárias, mas são aplicadas pelo indivíduo que avalia o seu caso particular e não por um grupo que tudo padroniza e sufoca. Vejamos algumas questões no livro-amigo. Ivan pega O Livro dos Espíritos e lê.

 

622. Deus deu a alguns homens a missão de revelar a sua lei?

– Sim, certamente; em todos os tempos houve homens que receberam essa missão. São Espíritos superiores, encarnados com o fim de fazer progredir a Humanidade.

 

623. Esses que pretenderam instruir os homens na lei de Deus não se enganaram algumas vezes, e não os fizeram transviar-se muitas vezes, através de falsos princípios?

– Os que não eram inspirados por Deus e que se atribuíram a si mesmos, por ambição, uma missão que não tinham, certamente os fizeram extraviar; não obstante, como eram homens de gênio, em meio aos próprios erros ensinaram freqüentemente grandes verdades.

 

624. Qual é o caráter do verdadeiro profeta?

– O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos reconhecê-lo por suas palavras e por suas ações. Deus não se serve da boca do mentiroso para ensinar a verdade.

 

626. As leis divinas e naturais só foram reveladas aos homens por Jesus e antes dele só foram conhecidas por intuição?

– Não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e ensiná-las desde os séculos mais distantes. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno para receber a semente.

- Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las sempre que desejou procurá-las. Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos os tempos pelos homens de bem, e também porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, mas incompletos ou alterados pela ignorância e a superstição.

 

628. Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos?

É necessário que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a  luz: é preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria.

- Jamais houve um tempo em que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia na Antigüidade, como sabeis, alguns indivíduos que estavam de posse daquilo que consideravam uma ciência sagrada, e da qual faziam mistério para os que consideravam profanos. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles recebiam apenas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e na maioria das vezes alegórico. Não há, entretanto, para o homem de estudo, nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque todos encerram os germens de grandes verdades, que embora pareçam contraditórias entre si, espalhadas que se acham entre acessórios sem fundamento, são hoje muito fáceis de coordenar, graças à chave que vos dá o Espiritismo de uma infinidade de coisas que até aqui vos pareciam sem razão, e cuja realidade lhes é agora demonstrada de maneira irrecusável. Não deixem de tirar temas de estudo desses materiais. São eles muito ricos e podem contribuir poderosamente para as suas instruções.

 

Vejamos o caso de Sócrates. Homem livre de preconceitos e de vícios, não condenou os oráculos, mas comunicou-se livremente com os bons espíritos. É esse modelo que defendemos para a juventude espírita: respeito a limitação dos outros, vivência livre e ética da mediunidade. Seus discípulos sabiam que ele se comunicava com seu guia espiritual constantemente, inclusive há relatos de orientações que evitaram acidentes e o próprio Sócrates não se tornara político por aviso de seu daimon que o avisara que sua missão, naquela encarnação, era outra.

Sócrates sabia que cada encarnação tem um propósito específico e, sabiamente, buscou conhecer as tarefas que lhe cabiam e as desempenhou com dedicação. Sob orientação de seu amigo invisível, corajosamente ensinou muitas verdades espirituais e como se encontrar a verdade por meio da crítica e da vivência diária da justiça. Os homens inferiores não amam a Verdade e o condenaram à morte. Em seu belo discurso, pouco antes de morrer, afirma aos seus juízes: lamento não por mim, mas por vocês. “Parto com a consciência tranquila, vocês me condenam injustamente. Agora, despedimo-nos. Eu para a morte, vós para a vida, mas só a divindade sabe quem terá o melhor destino.” Sabemos, ele teve melhor destino. É um justo.

Ante o silêncio e a emoção de todos, Ivan continua.

-  Dos profetas hebreus, destacamos Isaías. Profeta corajoso e inspirado. Condena veementemente os poderosos corruptos e egoístas. Fala da inutilidade dos sacrifícios e da adoração aos ídolos. Pelas vias mediúnicas, ensina aos homens um novo modelo de sociedade, estabelece padrões éticos para todas as relações sociais e ensina que a justiça social é alcançada pela compreensão espiritual da vida nos planos elevados. Fala do destino espiritual dos justos e dos bons e que um dia estes transformarão a Terra. É o profeta que mais fala da ida do Cristo ao mundo, mais de setecentos anos antes de seu reencarne. Ele tudo isso conhecia por causa da mediunidade. Vejamos estes trechos que evidenciam seu compromisso com a justiça e a bondade. Afirma Isaías, sem temor, criticando às práticas dos sacerdotes: “De que me serve a mim a multidão dos vossos sacrifícios? Diz o Senhor: Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.” O profeta demonstra aqui que é um homem livre e ético. Ensina que não interessa a Deus o sacrifício de animais, como pregavam os sacerdotes, mas sim uma conduta honesta. Isaías critica a classe responsável pela justiça, e alerta: “ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivãos que escrevem perversidades; para privarem da justiça os necessitados, e arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!” (Isaías 10:1-2). Além de criticar as injustiças, orienta a conduta dos que julgam: “Não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem decidirá segundo o ouvir dos seus ouvidos; (...) decidirá com eqüidade em defesa dos mansos da terra.” É o profeta que defende os órfãos, os abandonados, os desamparados do mundo. Como podemos compreender, com Sócrates e Isaías, a mediunidade tem como base insubstituível uma conduta ética elevada e não normas limitadoras criadas por homens falíveis. Não há norma que substitua a moralidade, a devoção e o amor ao próximo. Quando falamos moralidade queremos dizer uma conduta social justa e fraterna para com todos, principalmente, para com os mais necessitados, os aflitos, como ensina o grande profeta judeu.

  Após pequena pausa, prossegue Ivan ante o deslumbramento da grandeza desses homens e da importância da mediunidade em suas vidas.

-   Amigas e amigos, estamos na última etapa deste módulo. Precisamos entender que é necessidade nossa libertar a mediunidade das formalidades sociais. Necessitamos vivenciar a mediunidade com ética e liberdade. A comunicação dos espíritos é de todos os tempos, e o que muda é a forma como lidamos com ela. Para concluir, vejamos um trecho do prefácio de O Livro dos Espíritos.

 

As comunicações entre o mundo espírita e o mundo corpóreo pertencem à Natureza e não constituem nenhum fato sobrenatural. É por isso que encontramos os seus traços entre todos os povos e em todas as épocas. Hoje elas são gerais e evidentes por todo o mundo.

Os Espíritos anunciam que os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal estão chegados e que, sendo os ministros de Deus e os agentes da sua vontade, cabe-lhes a missão de instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.

 

- Peço agora que cada um de vocês busque entrar em contato telepático com seus anjos guardiões. Peçam ajuda para descobrir seus sentimentos em relação à mediunidade.  Uma música suave auxiliará na concentração. Para entender melhor seus sentimentos, representem-os por meio de um desenho como eles estão atualmente e como vocês desejam que eles se transformem.

Após a vivência, pergunta Ivan.

- Romildo, conte-nos o que você descobriu.

- Estou emocionalmente preso a necessidade de controle autoritário como os sacerdotes. Diz constrangido.

- Continue, por favor.

- Sei que é triste, mas tenho que admitir que meus sentimentos, meus impulsos inconscientes, são de controle, de verificação orientada pelo meu gosto e interesse pessoal, de imposição de meu método, e não do método científico elaborado por Allan Kardec.  Minha relação com a mediunidade é impulsionada pelo gosto do poder. Suas palavras expressavam uma profunda decepção com ele mesmo.

- Amigo, continue. Não há outro meio de evoluir a não ser admitir a própria pequenez. Estimula Ivan.

- Criei muitos métodos autoritários para o movimento espírita encarnado. Divulguei-os com fervor, era o impulso inconsciente de minha memória espiritual dos tempos do sacerdócio... Lá está a origem de minha desgraça. Diz Romildo.

- Que métodos? Indaga o professor amigo.

- Todos que me dessem poder. Dizia que era para evitar a obssessão. Que era para proteger a mediunidade! Se fosse verdade o que preguei, todos os profetas e  Sócrates seriam obsediados. Estabeleci até o número de comunicações que os médiuns podiam dar e a idade para ser médium! Muitos até hoje seguem essa loucura, os meus métodos... Diz enquanto enxuga as lágrimas.

- Você estabeleceu o número de comunicações que os médiuns deviam dar?! Pergunta Patrícia com espanto. Como fazer isso sem conhecer os médiuns, seus potenciais fluídicos, psíquicos e suas necessidades reencarnatórias? Como fazer isso sem estudar a dinâmica energética do grupo em que o médium participa e sem saber seu padrão ético e a condição de cada desencarnado comunicante?

Romildo olha assustado para Patrícia e fala desesperado.

- Eu tentei mandar na obra de Deus! Estava louco e muitos me seguiam e seguem!

- Acalme-se amigo. É sempre uma imensa conquista admitir nossos defeitos quando nos dispomos a melhorar. Consola-o Ivan.

- Como você deseja transformar isso? Indaga Patrícia.

Romildo mostra seu desenho e explica.

- Desejo transformar minha necessidade de mando em humildade verdadeira. Quero aprender a obedecer as ordens do mais alto e servir aos emocionalmente fracos ao invés de manipulá-los como fiz.

- Rivalina. Pede Ivan para que inicie.

- Comigo não é diferente. Vi muitas cenas da minha última encarnação durante a reflexão, não tenho como negar, ainda estou, em relação a minha compreensão da mediunidade, muitos séculos antes da era cristã e aos profetas... Na fase dos sacerdotes dominadores... Meu Deus! Diz nervosa.

- Fale-nos o que te vincula a esta fase. Incentiva Ivan.

- É o medo, é sempre o medo! Medo de ser punida, de errar, de não cumprir com os regulamentos formais. Mal termina a frase, pois soluça convulsivamente. Patrícia a ampara e pede que explique seu desenho.

- Quero construir uma fortaleza de coragem em meu coração. Vou socorrer os sacerdotes que desencarnam em sofrimento para que eu não tema mais os “sacerdotes” do movimento espírita.

Patrícia sorri feliz ante a ideia de autoeducação de Rivalina.

- Astrobrito que reflexões fez? Pergunta Ivan.

- Meu desejo é de monopolizar o saber, não aceito o acesso do povo a orientações espirituais que não sejam dadas por mim. É o exclusivismo mediúnico. Necessito de atenção, status. Se todos pudessem ter contato com os espíritos como ficaria meu status?! Ainda sou um sacerdote da época anterior aos profetas e ao Cristo.

- Muito boa sua análise. Sua vez, Eclésio. Pede Ivan.

- Acho que o que predomina em mim é a hipocrisia. Defendia a moral para os outros! Fui contrário a qualquer regra moral associada à mediunidade para mim e por isso sofro até hoje.  Fala  baixando os olhos cheios de lágrimas.

- Seu sofrimento seráútil em sua recuperação, afirma Patrícia e pede que apresente seu desenho e explique-o.

- Veja, diz apontando para o desenho em que ele distribui livros. É isso que quero fazer: aprender a distribuir, a democratizar o saber espiritual. Gostaria de começar atendendo as pessoas aqui na biblioteca. Preciso aceitar que os outros também tem direito de conhecer.

Ivan parabeniza-o por sua ideia e pede para Patrícia.

- Fale-nos de sua vinculação com a mediunidade.

- Admiro profundamente o profeta Isaías. Para mim, como para ele,  a mediunidade é fonte sagrada de estímulos para a renovação íntima e social. Penso que os homens e as mulheres encarnados só terão fé e criatividade para tornar o mundo justo e equilibrado quando souberem conduzir a mediunidade com coragem e com ética, a serviço de todos. A mediunidade é a fonte poderosa que estimula a luta de superação da animalidade. Na verdade, acredito que somente com a mediunidade moralizada poderão os habitantes do mundo da matéria densa alcançar a renovação necessária. Não há como socorrer milhões de seres desamparados social e moralmente, nessa fase evolutiva, sem o concurso constante dos espíritos superiores. Como os espíritas não vêem isso? Pergunto-me, constantemente.É preciso mudar este quadro, por isso decidi reencarnar. Eurípedes convoca imensa e poderosa falange para mudar a compreensão da mediunidade no mundo.

Suas palavras tocam como um bálsamo a todos que vivenciavam suas recordações dolorosas. A revelação da futura obra de Eurípedes no mundo e do reencarne de Patrícia geram poderosos estímulos. Todos sabem da elevação de Eurípedes e da determinação de Patrícia, quando se tratava ensinar o sagrado ofício da atividade mediúnica.

- Não queremos perdê-la, diz Rivalina.

Patrícia sorri e fala.

- Reencarnarei dentro de dez anos. Durante esse período estaremos juntos, preciso entender melhor o atual movimento espírita dos encarnados. Fui espírita à época de Kardec, tudo mudou muito! E em dez anos, todos esperamos que vocês aprendam a se devotarem à mediunidade e, assim, poderemos estar sempre juntos. A mediunidade é a via mais eficiente para nos manter unidos independente do mundo em que estivermos. Gostaria de psicografar uma obra com relato de todos vocês.

Patrícia silencia.

Algo diferente está acontecendo. Todos sentem e permanecem em silêncio.

Após alguns minutos sorri e diz: tenho uma boa notícia vinda de Eurípedes. Todos foram aprovados. Em breve, estudaremos o período cristão e seu desenvolvimento até a implantação do Espiritismo no mundo. Eurípedes está feliz: nada o deixa mais feliz que o progresso de seus discípulos e o verdadeiro progresso só se realiza com a sinceridade em relação a si mesmo. Conclui.

Todos choram de alegria. É uma vitória coletiva.

A proposta final foi buscar um jovem médium na Terra e auxiliá-lo a evitar os caminhos obscuros da mediunidade sacerdotal.

- Agradeçamos ao Cristo a oportunidade que Eurípedes nos concede. Ele continua a tarefa que o Mestre a ele confiou: educar os mais necessitados espiritualmente. Na Terra, utilizou-se da própria mediunidade para ensinar e curar milhares de pessoas! Agora, no espaço, trabalha para auxiliar os espíritas que, munidos de um imenso arsenal de luz, não vivenciam a mediunidade segundo o Espiritismo e morrem em situação amarga, porque quiseram dominar, gozar paixões inferiores, possuir status e riquezas ou acovardaram-se ante o dever. Sabemos. As enfermarias espirituais estão cheias de espíritas. Pobres espíritas! Não sabem sequer desencarnar, e deles se espera que renovem a Terra! Encerra Patrícia a pedido de Ivan.

Felipe lembra completamente desta aula. Acorda pensativo. Quer contribuir mais. A necessidade é imensa, Deus irá lhe ajudar e tornar-se um espírita sincero.

 

∫∫∫∫∫

 

Palavras Finais

 

Amiga e amigo, não aceite os sonhos loucos da mediunidade de fachada e formalidade! Sublima tuas energias nos trabalhos constantes, valoriza tuas percepções espirituais, busca com humildade a orientação do teu guia espiritual e serás vitorioso. Prepara-te com oração e agindo no bem para o próximo curso.

Os que com sinceridade no coração orarem e se dispuserem a servir terão nosso amparo e apoio constantes. É um momento de decisão: contamos com você! Preparai-vos para o combate, preparai-vos para a vitória. Continuaremos juntos. Nos encontraremos novamente.

Ivan de Albuquerque

 

 

Ivan de Albuquerque.

 

 

Ivan Santos de Albuquerque nasceu em Brotas, estado de São Paulo, em 16/01/1918 e desencarnou em 05/04/1946 com 28 anos. Jovem dedicado ao Bem, foi espírita sincero e trabalhou intensamente em prol da Doutrina Espírita e do amparo de quem sofre. Soube sempre se sacrificar em benefícios aos irmãos e familiares, como também de todos que encontrou em seu caminho. É o espírito amigo que desde 2001 coordena ostensivamente nossas atividades.

 

Eis o trecho de uma apresentação escrita por uma jovem, de treze anos, integrante do grupo Marcos.

 

Ivan é um amigo e tanto! Sempre que peço, ele vem e me ajuda muito! Ele é doce e atencioso, mas também rigoroso na medida certa. Quando tem que chamar atenção, ele fala. Com o Ivan é possível conversar, dialogar de forma tranquila e amigável. Ele nos escuta, nos compreende, nos ama de coração.

Ele desencarnou bem jovem, depois de ter cumprido uma linda missão aqui na Terra. Eu o considero um verdadeiro exemplo.

 

 

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Breve Explicação

 

Existem trechos que algumas obras citados no livro. Os amigos espirituais apenas nos indicam os trechos dos livros, cabendo a nós, os encarnados, pesquisar, traduzir e citar os trechos apontados. Esta tarefa, portanto, é de responsabilidade da equipe encarnada. . Traduzimos o prefácio e as questões 490,491, 659,662 e 668 de O Livro dos Espíritos da edição inglesa  de Anna Blackwell, da 2å edição FEB (Federação Espírita Brasileira).